TUNDAVALA
Revista Angolana de Ciência
etapas do ciclo vital das famílias e consequentemente
dos casais, aumentando desta forma a fonte de stress
externa e interna à família e ao casal.
Do ponto de vista económico Angola e Portugal
encontram-se submedos a condições sociais e
culturais disntas. Angola é um país em potencial
desenvolvimento que entrou há uma década,
aproximadamente, para o período pós-guerra, de
reconstrução e com um índice de pobreza alto,
enquanto Portugal é um país desenvolvido a viver
profundas diculdades sociais e económicas.
Ambos debatem-se com problemácas, temácas
e contextos contrastantes. Porém, os objecvos que
cada cônjuge anseia, na sua relação de inmidade,
independentemente do seu contexto, poderão
traduzir-se na procura de melhores formas de obter o
máximo de felicidade e de bem-estar.
As ronas familiares surgem nesta abordagem sobre a
conjugalidade e a cultura como um elemento de fundo,
capaz de explicar a forma como a negociação dos
papéis implícitos e explícitos são estruturados dentro
da relação. As ronas podem ser denidas como um
padrão repevel e previsível que caracteriza a interacção
quodiana dentro de um sistema (Boyce, Jesen, James,
& Peacock, 1983, como citado por Churchil & Stoneman,
2004). Minuchin (1997, como citado por Relvas, 1996)
explica que a transição do indivíduo para o casal é
feita através da negociação e do estabelecimento de
normas de modo mais ou menos formal, inconsciente
ou consciente, com vista a denir uma estrutura base
das interacções conjugais que integre o conjunto
de normas, e padrões das famílias de origens e as
expectavas e valores de cada um. Assim, a realização
do conjunto de ronas e funções diárias, por parte
do casal, para o desenvolvimento do senmento de
pertença será arculado à denição e negociação dos
papéis e estatutos dos elementos, tomada de decisão,
ajustamento sexual, divisão do trabalho, o controlo
das nanças familiares, entre outras dimensões.
Imber-Black (1995 ) aponta que, de acordo com a
cultura, os eventos e transições normavos do ciclo de
vital da família como o casamento, nascimento e a morte
são assinalados por rituais de passagem. Para este autor
o ritual de casamento tem um impato signicavo na
estrutura conjugal, bem como nas famílias que se uniram,
podendo funcionar como um ritual terapêuco que
contribui signicavamente o apaziguamento conjugal
nos momentos de crise e de elevadas mudanças. Na
cultura bantu a endoculturação surge como mecanismo
social de controlo para preservar as tradições culturais,
os papéis sexuais e a estabilidade da comunidade.
É aceitável a valorização dos rituais de casamento como
forma de inclusão na vida adulta (Silva & Carvalho, 2009).
Na abordagem dos outros factores centrípetos
destacaremos a comunicação, a perceção, o amor e o
compromisso para a compreensão da temáca proposta.
A comunicação pode ser entendida como um
dos ingredientes comportamentais para a para a
consolidadção da inmidade e do compromisso.
Gameiro (1992) dene a comunicação como moeda
de troca do sistema enquanto elemento da interacção
e aponta que quanto mais próxima e signicava
for a relação maior será a repercurssão dos efeitos
pragmácos da comunicação. Desta forma, quando
surgem os conitos o factor importante para a sua
resolução é a metacomunicação, que consiste na
descentração do conteúdo do assunto para se focar
nos senmentos que pretendem ser comunicados.
Vários estudos apontam que existem diferenças
comunicacionais entre casais sasfeitos e casais
insasfeitos, em que os primeiros revelam maiores
níveis de inmidade e de comunicação aberta e clara
(Narciso & Ribeiro, 2009).
Outra dimensão dentro dos factores centrípetos
corresponde aos processos cognivos, dos quais
podemos destacar é a percepção que, segundo
Baucon e Epstein (1990), pode ser denida como a
reparação e categorização signicavas de todos os
elementos informavos disponíveis numa situação.
Dependendo da sua avaliação, posiva ou negava,
origina senmentos de sasfação ou insasfação,
determinando a qualidade da relação e o invesmento
presente e futuro.
As autoras Narciso e Ribeiro (2009) destacam
os processos afecvos e consideram o amor, a
inmidade e o compromisso como elementos
constuintes desta dimensão.
Chapman (1998) dene o amor como o conjunto de
senmentos de aceitação incondicional, respeito e
admiração, independentemente, das caracteríscas
que o cônjuge apresenta. Nesta perspecva o amor
será uma atude que orienta o indivíduo de forma
consciente e emova, exigindo certa disciplina para o
crescimento pessoal.
Este senmento não é estáco, experimenta mudanças
ao longo do tempo, com contornos mais coloridos
nalguns momentos e mais cinzentos noutros. O amor
pode ser descrito como entrega de si, respeito pelo
companheiro, compreensão e paixão.
A conjugalidade assenta a sua essência, não só na
instuição do casal, mas sim nos senmentos de
parlha e inmidade e do desejo de estarem juntos.
Torres (2000) alega que na sociedade contemporânea
os senmentos de amor são muito valorizados e
intensicados na escolha do parceiro e nas decisões
de início e/ou ruptura de uma relação.
O conceito de compromisso é essencial para a
compreensão dos prazeres e sofrimentos de uma
relação conjugal, consisndo na ideia de desejo de
alguém manter uma proximidade e um envolvimento.
Nas palavras de Giddens (1993) o compromisso, a
história de vida comparlhada, os objecvos e as
expectavas devem proporcionar certa garana de
que a relação será manda por um período indenido,
ou seja, segundo os princípios doutrinais religiosos,
os indivíduos casam e permanecem na relação até
que a morte os separe. Para Narciso e Ribeiro (2009),
o compromisso e a inmidade são dois conceitos
sobrepostos e associados ao amor.
A inmidade pode ser denida como um conjunto
de processos afecvos, cognivos, comportamentais
dinâmicos e interligados, onde estão presentes os
senmentos de parlha, existe a auto-revelação,
apoio, conança, mutualidade, inter “in” dependência
e sexualidade. Através destes parâmetros o casal se
conhece, se apoia, se “re” constrói reciprocamente de
modo a que ambos sejam inter “in” dependente.
Um dos pontos mais importantes da inmidade
para a saúde emocional e sica dos casais é o apoio
emocional que envolve a compreensão, a valorização,
o cuidado, a atenção e a preocupação com o outro.
Os factores centrífugos são todos aqueles periféricos
em relação ao holon conjugal que podem ser
pessoais (caracteríscas da personalidade, padrões
de vinculação) demográcos e individuais (idade,
género, habilitações literárias, etnia) e os contextuais
(prossão, família de origem, rede social).
Num estudo desenvolvido por Leslie e Anderson
(1988) e outro por Brunstein e Schultheiss (1996),
vericou-se que quanto ao nível da sasfação os
valores variam entre homens e mulheres. As mulheres
empregadas revelavam maiores índices de stress e
menor sasfação conjugal comparavamente com as
mulheres que não estavam empregadas, já os homens
revelavam índices directamente proporcionais quanto
à sasfação conjugal e a sasfação prossional, ou
seja, quanto maior a sasfação relacional maior a
sasfação prossional.
Morris e Carter (1999) observaram que os indivíduos
com maiores níveis académicos tendiam a exibir
igualmente maiores níveis de sasfação conjugal.
Este factor poderia ser explicado pelo fato de estes
cônjuges estenderem a ulização das suas habilidades
intelectuais e estratégicas para as suas relações, ou
seja, além destes serem inteligentes intelectualmente,
seriam também inteligentes emocionalmente.
Além da prossão e do nível académico, os papéis
de homem e mulher têm, implicitamente, tarefas
que competem a cada um, uma vez que é a própria
sociedade que cria padrões para a gestão destas
acvidades. Assim, a construção da sexualidade é
um percurso que na sociedade ocidental, devido aos
crescentes movimentos apoiantes para a emancipação
feminina e a busca da igualdade entre ambos os sexos,
cruza com outros papéis que podíamos considerar
naturais – mãe e mulher; pai-homem.
Estudos revelam que existem outras diferenças na
percepção da conjugalidade em relação ao género.
As mulheres tendem a apresentar maiores níveis
de auto-revelação, sensibilidade, a sua expressão
emocional estão mais orientadas para os afectos,
privilegiando o diálogo na criação e manutenção da
inmidade. Já os homens possuem maior orientação
instrumental, maior controlo emocional e expressão
das emoções através dos comportamentos (Narciso, 2001).
De forma geral, segundo Narciso (2001), os homens
percepcionam mais posivamente a relação e
Existem diferenças na percepção do funcionamento conjugal e ajustamento mútuo por cônjuges angolanos e portugueses?
Dulcinéia Dungula de Carvalho Januário